domingo, 24 de junho de 2012

Nós cá em casa estamos mais unidos. Lidamos melhor com a dor assim.

O Tito veio cá para casa com 3 semanas. Ao longo do tempo tornou-se o nosso escape, a nossa alegria, o doido do pai do "olha o bicho!", o coxo que nos vai esperar à beira da estrada quando chegamos da escola e que me faz companhia quando vou apanhar o autocarro. Tornou-se a companhia da mãe quando está a fazer o almoço. Ela fala com ele e ele às vezes parece que lhe quer responder. Cá em casa dizemos que ele é uma pessoa que reencarnou num cão.

O Tito tornou-se o melhor amigo do mano nos textos de inglês e aquele a quem me vou agarrar quando vou chorar para a rua. Já lhe calçámos os ténis velhos do mano ou a camisola do pai, e ele alinhava nas brincadeiras.
Ao jantar, ele deita-se no tapete da cozinha a dormir e assim que nos ouve levantar, levanta-se também, eufórico: "chegou a hora de jantar do Tito!" E as risotas que provoca quando se põe atrás da mãe quando abre o frigorifico, e os saltos que dá quando lhe damos pedacinhos de fiambre!

Ou dava...

O Tito tornou-se o companheiro do pai quando está a arranjar alguma coisa na rua e a inspiração para as músicas que eu e o mano cantávamos quando éramos mais pequeninos "Tito, és o meu bicho, canino bichano, bichano canino, Tito!", era uma delas, ou da palavra "coxisse", que inventámos para descrever o que sentíamos, sem ter de dizer o típico "amo-te" . A nossa família era "coxa" e o Tito tinha ataques de "coxisse".

Ele odeia gatos (instinto de cão!) e não gosta da trovoada, começa a bater à porta quando ouve um relâmpago. O pai diz que ele parece um leão quando se deita ao sol e quando saímos de casa, ele vai ter com a mãe ao trabalho e deita-se ao pé do carro dela.

Toda a gente o conhece, porque acabamos sempre por contar alguma proeza que o Tito fez no dia anterior, ou porque todos os vizinhos o adoram, porque ele faz companhia a toda a gente.
Ele deu-nos vida e animo quando as coisas cá por casa não estavam das melhores. O Tito faz parte de nós.

Desde Quarta que o Tito não está bem. Tem tido convulsões e está pachorrento. Não reage quando o chamamos, a última vez que o fez foi quando o encontrámos no meio da estrada com um casal a tentar ajudar, e quando ouviu a voz da minha mãe assustada por vê-lo assim, levantou logo a cabeça e caiu novamente. (muito obrigada a esse casal, ainda existem pessoas bondosas e civilizadas neste mundo!). O veterinário diz que tem epilepsia, mas nem com a medicação tem melhorado. Pelo contrário, está cada vez pior. Custa tanto vê-lo assim...

Ontem à noite teve 2 convulsões seguidas, e eu fui a única cá de casa que não consegui ir para o pé dele. Não aguento vê-lo sofrer. Eles também não, e foram...

O Tito praticamente não come (e digo-vos que era das coisas que mais gozo dava ver, a felicidade dele quando via a mãe dar-lhe comida, a cauda a abanar loucamente não enganava!) já não levanta a perna quando lhe damos festinhas... É tão difícil vê-lo assim.

Acordei com o ganir dele. Ouvi os meus pais levantarem-se para o irem ajudar. Continuei na cama, não tive coragem de ir lá abaixo. Fui buscar os phones para não o ouvir caso lhe desse uma convulsão e fiquei a olhar para o meu mano a dormir. Estava tão tranquilo... Ontem adormeceu tarde, não conseguia dormir.



O tito retrata-nos enquanto família.
 O que mais desejo agora é que não sofra mais. Todos desejamos isso...



2 comentários:

  1. Sinceras melhoras a esse coxo. Parecendo que não eles são-nos "100% nosso sangue", é assim que os sentimos e os amamos... As melhoras e que sejam rápidas **

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  2. Pois é, e é nestes momentos que mais sentimos isso. Muito obrigada :)

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