sexta-feira, 9 de março de 2012

existo, existes, existe

Alguém tinha cancro e a minha mãe cortava-lhe o cabelo bem curtinho, talvez rapado...
"Shimbalaie
quando vejo o sol beijando o mar
shimbalaeie
toda a vez que ele vai repousar"
-Acordei. Fiquei deitada a olhar para o tecto e a pensar nisso. Adoeço, morro. Vou para o céu? Reencarno noutra pessoa? Acaba tudo?
Não pode acabar tudo, há sempre qualquer coisa, o mundo não existe se não existir nada nele. O nada não existe, é um facto.
Depois da morte, o que é que nos acontece? Deixamos de pensar? Deixamos de existir? Ou continuamos a pensar sem existir? É impossível, essa é a única certeza que temos. Como é que poderá não existir nada? Se não existíssemos, como sabemos que isto é infinito?
Refugio-me em ideias banais para não pensar nisto. O que mais me assusta não é morrer, é saber que posso deixar de existir. É esquisito pensar nisto, põe-me completamente desnorteada. Vou abraçar a minha mãe, dar-lhe os bons dias. Tenho a certeza que existo. O meu dia começou.  

(enquanto escrevia este texto, um grupo de meninas fúteis grunhia gritinhos agudos, gozando com algém que passava. É incrivel como existir se expressa de tão diferentes maneiras...)

1 comentário:

  1. Fico contente por o meu reprodutor fazer parte da tua mente... Maria Gadú em altas! Quando ao tea em si também penso bastante sobre ele mas evito porque faz-me arrepios, arrepios verdadeiros! Parece que me começo a ver de cima cada vez mais distante... Primeiro a minha mente, depois a cabeça, depois a casa, o terreno, o concelho, o distrito, o centro, Portugal, Europa, Terra, Sistema Solar, Galáxia e por fim tudo preto... Somos tão pequeninos

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